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caderno luminoso

Caderno luminoso

Em cadernos luminosos exploramos a constelação das narrativas. Os escritos e esboços se apresentam aqui pela ação, processo e o efeito de narrar fazendo interconexões entre diversos gêneros textuais.

Pois acreditamos que luminosas são as histórias que nos guiam pelo caminho do pertencimento e reconhecimento.

Pode ser poesia, dramaturgia, conto, romance… Aqui o que importa é narrar a palavra-poeira para que a façamos dela uma constelação de saberes.

Veja nossos textos e se divirta nessa jornada nebulosa!

1. “Fale mais sobre isso”, texto da atriz e dramaturga Maria Vitória, apresenta-nos uma sala de psicanálise e as sessões de análise da personagem Auri, que tem escuta e intervenções da psicanalista Berenice. Nessas sessões, transbordam as experiências conscientes e inconscientes de Auri, seus atos falhos, o que nos leva a refletir todo esse amálgama em nós mesmos. A dramaturga, entretanto, fala ainda mais, quando nos mostra, entre uma e outra sessão, fragmentos do cotidiano de Berenice, revelando aspectos da vida pessoal da personagem, algumas de suas questões cotidianas, amores e anseios. O que nós acessamos sobre Berenice, Auri não o sabe. Mas deseja. E é pelos sonhos de Auri que acessamos tal desejo: neles, os papéis se invertem, e é ela quem escuta a psicanalista. Contudo, aí, a sala de divã e a escuta ganham outra dimensão: no sonho, falar mais sobre é uma dança em torrente, um aluvião de corpos em que ditos e não-ditos se expandem na possibilidade da quimera, no transbordar da arte.


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2. “Provérbios de burro”, do ator e escritor Marcos Paulo, provocam:
versos de um eu-animal, de um eu-burro, um burro-mesmo, um burro-Liro:
que narra sua história: fragmentos, percepções do cotidiano, seu hoje e seu ontem, revolta no desejo, pensamento-ação ora submisso ao sofrimento ora:
ah, que ironia!
e continua resignado se o sabe? por quê? e o que é (e quem de fato) resignar-se (resigna-se)? fugir, permanecer? do quê?
a inteligência de um burro que pensa-pensa&pensa: mastiga-mastiga&mastiga: sonha-sonha&sonha: e a que serve tudo isso? o que nos aconselha, afinal?
quem é o burro, aliás? Liro, que pensa-sente sua condição ou: tanto (ou mais): o velho, a família, a escola, o cavalo, a sociedade?
lirismo e dor: lirismo e humor: lirismo e encanto.
“Mas de que serventia teria um homem escutar um burro?”
Marcos Paulo tece com singular artesania: filosofia e palavra: poesia.


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